terça-feira, 27 de outubro de 2009

Linguística

Fato corriqueiro: sempre me perguntam o que é que eu estudo. Eu sempre digo que estudo linguística. Hummm. A pergunta inevitável é “o que é a lingüística? O que você estuda com isso?”. Minha mente rapidamente processa alguma reposta (que nem sempre convence, admito!). A resposta depende sempre de quem pergunta. Geralmente faço uma outra pergunta na sequência. “Você se lembra, na escola, quando você estudava português?” A pessoa sempre lembra do trauma ou do prazer. Continuo, então, dizendo que aquela matéria na escola se dividia basicamente em literatura e linguística. E que eu, portanto, estudo a linguística. A pessoa solta um “Ahhhhh” de contentamento por entender, e em seguida diz “Que legal (ou credooo) você estuda gramática”. Súbito penso comigo “Fudeuuuuuu”. Por que será que é tão difícil explicar o que é a linguística sem corrermos o risco de dizer não-dizendo, reproduzir aquelas respostas complexas ou quando pior a já sambada reposta “linguística é a ciência que estuda a língua(gem) humana”. Todas essas respostas nem sempre convence logo de cara. Um “ahh ta” é sempre ponto final da questão. E fica por isso mesmo.
Por que tantas dificuldades de explicarmos o que é e o que faz a nossa ciência? Nada mais oportuno, então, que chamar nossa amiga, a filosofia, para me ajudar nessa tarefa. Através de um ensaio filosófico é que o Professor José Borges Neto, da UFPR, nos ajuda a responder a questão.
De que trata a linguística, afinal?

O Banquete de Saussure, de Felipe de Menezes

Personagens:
Saussure
Backtin
Peauchex
Chomsky, o excluído
Vozes de Dionisio de Tracia e Pãnini
Coro de anciãos: Bechara, Celso Cunha, Pasquale
Coro de curiosos: Gladis, Baronas, Miotello, Mônica (e a rápida passagem da extremista Soila)

CENA 1
Terraço Itália, ou melhor, na casa velha de Saussure. Tanto num grande casarão da Suíça como numa capoeira velha qualquer aqui no Brasil. Na sala alguns móveis antigos. Muitos livros. Uma lareira se for na Suíça completa o cenário. Uma bananeira plantada na sala se for no Brasil. Um homem de meia idade anda pela sala como que estivesse esperando alguém.
SAUSSURE: Momento histórico. Vejamos. Nada mais poderia ser tão histórico.
(...)
CHOMSKY: Caro Backtin, o fato de minha desconfiança com suas palavras ...
(...)
VOZ DE PANINI: Não, não era nada disso! Parem imediatamente!
(...)
Entra o coro de anciãos vestidos a caráter que lembra muito os velhos coros de Antunes Filho. Todos de terno e gravata.
CORO DE ANCIÃOS: Lutemos sem cessar
A gramática não pode esperar
Viva Dom João! Viva Dom João!
(...)
Entra o Coro de Curiosos. Todos de mãos dadas.
(...)

Ciência e Senso Comum

Rubem Alves no seu livro “Filosofia da Ciência – introdução ao jogo e suas regras” faz durante todo o percurso filosófico ao qual se propõe para comentar a ciência uma abordagem da ciência tal como a conhecemos (com seus pré-conceitos e estigmas) e o senso comum (também com seus pré-conceitos e estigmas). Na verdade ALVES vai concordar com G. Myrdal que diz que “a ciência nada mais é do que o censo comum refinado e disciplinado”. Senso comum e ciência não são elementos opositivos, ou seja, um lá e outro cá. Ciência e senso comum são formas de conhecimento. E isso basta a princípio. Ocorre que o cientista vai especializar-se em um assunto, numa técnica. O cientista vai a fundo no recorte de seu objeto de conhecimento. Mas antes disso ele tem que ser capaz de inferir, de ter uma noção, um senso sobre o que fazer em determinadas circunstâncias. Rubem Aves utiliza-se de uma maneira bem dialógica para a escritura de seu livro. Traça inúmeros exemplos e nos dá tarefas. Quer no fundo tirar esse preconceito de que o senso comum está ligado a um saber inferior, dos incultos e dos menos escolarizados.

Antes tarde do que nunca

Demorei, mas postei. Na verdade enrolava um pouco para postar, pois tinha além do escasso tempo para a internet outras atividades que de certa maneira me sugam demais. Mas, vamos lá. Esse blog, na verdade, é um espaço para o empreendimento e uma tarefinha nada muito fácil. Como um dos instrumentos de avaliação da disciplina Epistemologia da Linguística ministrada pelo Professor Roberto L Baronas a vida deste blog tem um fim. Fim no duplo sentido. Aqui postarei textos sobre as aulas, sobre as leituras, as impressões, as dúvidas, enfim, uma conversa sobre epistemologia da linguística. E para começar a empreitada gostaria de dizer que essa disciplina é uma das que me impressionou desde o começo dos cursos do segundo semestre. Primeiro pelo fato de ser ministrada por um Senhor da linguística que muito entende do que faz. O meu orgulho advém sempre quando encontro pessoas felizes com o que fazem e, por isso, o fazem de maneira vibrante e intensa. Esse é o caso do Prof. Baronas e de sua disciplina. Está sendo um prazer, a bem da verdade. O grande mote desse curso é, em poucas palavras, nos introduzir às diversas correntes teóricas que marcaram (e ainda marcam!) a nossa recente ciência. Recente como ciência, apenas. A linguagem, como bem sabemos, existe desde quando existiu o encontro de duas pessoas. O homem primitivo encontrando um outro com as mesmas características sentiu necessidade de se comunicar e, para isso, utilizou de mecanismos e instrumentos que nada mais foram que a linguagem. É por meio dela que estabelecemos a comunicação, interferimos no mundo, criamos verdades e falsas realidades e o mais (in)crível: falamos da própria linguagem. Se sublinhasse aqui três palavras que a princípio explorarei seriam elas: linguística, epistemologia e ciência. Sobre esses assuntos é que falarei a priori. No primeiro dia de aula Baronas nos conceituou o léxico epistemologia - palavrinha que nasceu em terras dos gregos antigos. A epistemologia é a ciência que estuda (de maneira crítica) os princípios, hipóteses e resultados de outra ciência. Uma ciência estuda a outra. No mínimo interessante. Mas não para por aí. A epistemologia não se contenta somente com isso. É preciso mais. Ela almeja mais. Então, além de desses estudos, o próximo passo de um epistemólogo ou de um curioso-metido a fazer epistemologia é determinar os fundamentos, os valores e o alcance dessa outra ciência, dessas outras teorias. É o estudo do conhecimento.

Nesse curso, a tarefa dos futuros lingüistas é estudar de [modo crítico] as grandes teorias da linguística, passando pelo estruturalismo, pelo gerativismo, pelo funcionalismo e pelo materialismo histórico. Nessas aulas já tomamos contato com o estruturalismo. Aliás, essa teoria é a base da lingüística. Base porque está marcada como sendo a teoria da fundação. Os “primeiros” linguistas começaram de modo estrutural, tomando como o objeto da linguagem a língua em sua forma, em sua estrutura em última análise. Desde o primeiro dia da graduação ouvimos (e ainda vamos ouvir muito!) sobre os estruturalistas. Dá-se ao suíço Ferdinand de Saussure a honra de ser o “pai da linguística”, justamente porque foi naquele tempo, naquele espaço, e naquele modo que a linguagem conhecia “outros mares nunca antes navegados”. Nosso pai, então, escreve no início do século XX o livro que inaugura a nossa ciência. O título é “Curso de Linguística Geral”.

Mas o que é, afinal, uma ciência?

O que é a lingüística?

Por a “descoberta” tão tardia de Saussure?

Dentre a vasta bibliografia oferecida para a leitura, Baronas indica um livro que comecei a ler e do qual estou me deleitando: “Filosofia da Ciência” (2008) de ninguém mais e ninguém menos que Rubem Alves, o cara de Campinas que explica tudo de uma forma simples. O livro é um verdadeiro deleite. Tomarei como base esse livro para falar de ciência. Outro livro importantíssimo nessa disciplina é um chamado “Ensaios de Filosofia da Linguística” (2004) do Professor José Borges Neto que faz um traçado epistemológico da linguística. Ademais vídeos da Professora Fernanda Mussalin ilustram os temas a serem estudados.

Bom por ora é isso! Em breve mais novidades. Antes tarde do que nunca, né não Baronas?